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MATANDO DELÍRIOS COLONIAIS

“o que é estar à margem?

quando estamos à margem?

por quem somos postos à margem?”

“quem pode falar?

quem não pode?

e acima de tudo sobre o que podemos falar?”

“quem é o outro?”

“por que é preciso dizer algo? o que quero transformar em inscrição?”

*perguntas sugeridas por Janaína Barros na aula Artes e Performatividades Comunitárias, da Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG, no dia 05/07/2021

“[...] o colonialismo é um estado de terror, não há razão, é violência em estado bruto" (RUFINO, 2019, p. 62).

" Uma das grandes formas de manter os modos de vida coloniais em atualização é defender sua suposta boa essência.

A eficiência disso está em associar a violência a uma exceção, a um desvio da prática e não (também) à teoria e ao sistema doutrinário que os orientam.

Pensando assim que muitos acreditam em uma catequização/cristianização boa, em polícia não violenta, em monogamia saudável e etc.

Em nosso território, a monogamia foi imposta como parte fundamental do projeto de colonização, já que não seria possível o batismo sem ela (Vânia Moreira).

A ideia de salvação já parte de uma verticalidade, pois sabemos que os missionários não vieram para cá para serem salvos por nós e sim para nos salvar. Nos salvar de quê? Do que inventaram como pecado.

Universalização é o outro nome da arrogância colonial.

A colonialidade não admite concomitâncias, então para provar que ama ao deus cristão foi/é necessário negar, recusar e repelir outros deuses, tidos como falsos. [...].

Não à toa as religiões monoteístas universalistas avançam no mundo na exata medida em que outras espiritualidades foram/são exterminadas.

Aqui, a monogamia é profundamente inspirada por esse monoteísmo cristão , em que pra se sentir amado se exige implícita ou explicitamente que não se ame/deseje outres. Só se prova amor, fidelidade e respeito ao deus cristão pela negação de outros deuses.

O combinado do monoteísmo exige a promessa monogâmica. [...]

Não é possível descolonizar sem descatequizar/descristianizar. (NÚÑEZ, 2021)

“O corpo-amuleto transgride a lógica objetificadora da empresa colonial, que investe ou no corpo de interditos e pecados, ou no corpo banalizado como mercadoria. O corpo-amuleto se inscreve em uma lógica que ressurge como símbolo próprio de uma devoção profana” (RUFINO, 2019, p. 61)

“A normatização do mundo em um esquema binário é mais uma marafunda colonial, considerando que a própria Europa nunca foi versada em uma única banda. [...] a mentira propagada por séculos envolta num véu de pureza que dissimula o caráter devastador, legitimado a partir de uma política de invenção do outro como parte a ser dominada para ascensão da civilização. Eis que se ergue o que chamo de marafunda, assombro, e carrego colonial” (RUFINO, 2019, p. 17)

“Combater o esquecimento é uma das principais armas contra o desencante do mundo. O não esquecimento é substancial para a invenção de novos seres, livres e combatentes de qualquer espreitamento do poder colonial. É nesse sentido que firmo meu verso: o não esquecimento, a invocação, a incorporação, o alargamento do presente, o confiar da continuidade e do inacabamento passado de mão em mão compartilhado em uma canjira espiralada é o que entendemos enquanto ancestralidade, que emerge no contexto de nossas histórias como uma política anticolonial” (RUFINO, 2019, p. 16).

“A noção de encruzilhada emerge como disponibilidade para novos rumos, poética, campo de possibilidades, prática de invenção e afirmação da vida, perspectiva transgressiva à escassez, ao desencantamento e à monologização do mundo. A encruza emerge como a potência que nos possibilita estripulias. Neste sentido, miremos a descolonização. Certa vez, uma preta velha me soprou no ouvido: “Meu filho, se nessa vida há demanda, há também vence-demanda”. Dessa forma, se a colonialidade emerge como o carrego colonial que nos espreita, obsedia e desencanta, a descolonização ou decolonialidade emerge como as ações de desobsessão dessa má sorte” (RUFINO, 2019, p. 13)

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"Os afetos atravessam o corpo como flechas, são armas de guerra"

(DELEUZE e GUATTARI)

“O corpo como esfera de saber é aquele que transgride a violência e a opressão inscrevendo formas de luta e possibilidades de reinvenção de si” (RUFINO, 2019, p. 61

“Praticar a encruzilhada nos aponta como caminho possível a exploração das fronteiras” (RUFINO, 2019, p. 17).

“Assim, a descolonização deve emergir não somente como um mero conceito, mas também como uma prática permanente de transformação social na vida comum, é, logo, uma ação rebelde, inconformada, em suma, um ato revolucionário. Por mais contundente que venha a ser o processo de libertação, é também um ato de ternura, amor e responsabilidade com a vida”

(RUFINO, 2019, p. 11).

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